Imagem Sonora

Blog onde se dissecam diferentes criações visuais, a partir de diferentes composições musicais (os vulgarmente denominados "videoclips".


Eryc Pridz - Call On Me





Chama-me , ou telefona-me. Se se tratar da senhora professora do videoclip, certamente o pedido será tido em grande conta e estima.


Mas dissequemos um bocadinho toda a estrutura fantástica desta nobre criação artística. Desde já terá que ser sublinhado o pormenor da especificidade da aula leccionada.


Meus amigos e amigas, esta aula não é uma aula qualquer de aeróbica. Aqui só entram raparigas que queiram exercitar convenientemente o corpo, sem limites e ou amarras físicas. E de preferência (ou melhor, obrigatoriedade) que sejam boas.


Não duvido que a inscrição de homens em centros de fitness e/ou ginásios tenha evoluído de maneira extremamente positiva, especialmente no que diz respeito às aulas de aeróbica, depois desta experiência.


A aeróbica tinha deixado de ser uma coisa para panascas, ou para mulheres que não estão para andar a andar de bicicleta ou a dar sopapos no ar enquanto dançam ao som de música de inegável qualidade. Não, a aeróbica, como aliás se pode ver, é o paraíso do homem enquanto ser físico, com as suas preocupações relativas ao planeamento familiar.


E que dizer do risinho constante do jovem, e dos seus movimentos (de aeróbica claro!) que acompanham o exercitar físico das suas colegas de aula (as quais seguem uma professora inovadora, estilística e fitnessmente falando).



Eu iria até mais longe, ao dizer que me apercebi de uma certa tensão naquela sala de aula. Há muito suor, muitas mãozinhas eloquentes, o que se torna natural no entanto, perante um stress diário decorrente do trabalho.


A certa altura parece-me que naquela sala, já não existem limites. Quer para a aeróbica, que parece voar para horizontes nunca antes estimulados, quer para os participantes, que num espírito sagaz de culminar ginasta, fazem trinta por uma linha para perder uns quilinhos.


Nunca, em algum momento, o videoclip perde o seu rumo argumentativo (aliás, ele encontra-se vincado logo a partir do momento em que os protagonistas se começam a mexer).


Mas a pergunta que eu deixo é unicamente esta. O que faz aquele senhor ali no meio de tanta mulherada? Tem uma espécie de pacto secreto com o staff do ginásio? É presidente de alguma grande firma? Enganou-se na sala de exercícios? São pormenores que parecem irrisórios, mas que podem conseguir atormentar durante o visionamento do videoclip.


Mas, com professoras como estas, a trabalhar para objectivos mais nobres e educativos, em contexto Estado e em escolas públicas, certamente que a taxa de insucesso e abandono escolar passaria a tornar-se uma miragem. Pelo menos no que diz respeito às aulas de Educação Física.

David Hasselhoff - Hooked on a Feeling





Está bem, já sei o que vão dizer: ah, e tal, o David Hasselhoff não é uma figura marcante da música internacional nem fez nada de memorável nessa área. Estão, de facto, correctos (excepto se considerarmos o mercado alemão onde o homem era quase um deus), mas este vídeo é tão indescritivelmente mau que senti a necessidade... não, a obrigação de o colocar aqui para deleite de todos os potenciais interessados nessa nobre arte que é o mau videoclip.

Posto isto, vamo-nos debruçar sobre esta verdadeira obra de arte. Que o homem conduzia o carro que todos nós queríamos ter, de seu nome KITT, já o sabíamos. Que também salvava vidas nas praias de Los Angeles, acompanhado por beldades capazes de fazer cair queixos em todo o mundo, também já o sabíamos. Vá, alguns de nós até sabiam da sua carreira musical através do seu single "I've Been Looking for Freedom" (pelo menos, eu sabia e sim, sei que é triste). Mas ele não se fica por aí. Ele faz snowboard, ele é explorador em África, ele é motoqueiro acrobata, ele voa... Haverá algo que David não consiga fazer? Aparentemente, figurar num vídeo decente.

Há, apesar de tudo, vários pormenores de qualidade a trazer algum brilho a tudo isto. Reparem na forma como ele voa, agitando os braços como se tivesse asas; vejam como ele desce encostas usando um trenó voador como se fosse uma prancha, ao bom estilo do "Regresso ao Futuro II", tudo isto enquanto vestido como um esquimó - desconfio que acabámos de encontrar o side-car perdido do Pai Natal - e na sua impressionante agilidade ao apanhar um peixe suicida ao mesmo tempo; notem ainda a sublime metáfora presente na cena entre os anjos, descendo dos céus, e os cães (óbvia referência aos hellhounds, ou cães do Inferno), ladrando furiosamente na sua direcção, em baixo, num confonto épico entre o Bem e o Mal.

No entanto, outros detalhes há que são pura e simplesmente incompreensíveis. Ursos dançarinos? Danças tribais africanas? O que é aquele cubo que ele segura nas mãos? E QUE RAIO DE COISA É AQUELA QUE ATRAVESSA O ECRÃ POR DUAS VEZES A SALTITAR? Será uma espécie de Homem-Mosca? Quem esclarecer esta dúvida será o feliz vencedor... da minha gratidão.

Em suma, este clip serve dois propósitos:
  1. Mostrar a potenciais cinematógrafos como NÃO usar ecrãs azuis;
  2. Demonstrar o efeito das drogas no cérebro humano.
Concluo lançando uma pergunta: como é possível que o homem responsável por tantas boas memórias da minha juventude - e não me refiro apenas à Pamela Anderson - pôde ao mesmo tempo fazer uma coisa destas? Agora tenho mesmo a certeza de que já não restam heróis no Mundo.

F R David - Words




Que melhor maneira para continuar o percurso deste blog, do que recuperar este fantástico hit dos saudosos anos 80, com um não menos impressionante registo visual do artista F R David.


E existem vários aspectos de interesse, que vão desde uma escolha criteriosa dos óculos a usar pelo artista, até ao "degradé" estonteante das cores presentes, que personalizam eficazmente a tonalidade particular da música.


Sobre os óculos, pouco ou nada haverá a dizer. Quaisquer palavras serão insuficientes para traduzir o conjunto de sensações e estímulos que eles despertam. Mas F R David, atento, impulsiona esse estímulo visual ao ser ainda mais arrojado, apresentando-se com uma impactante camisa da mesma cor do seu adereço principal (o qual aliás, rouba todo o videoclip).


De referir também o pormenor particular da focalização da guitarra, como instrumento indispensável ao desenvolvimento da música (aqui apenas se coloca a questão de, a ser justo, F R David deveria também ter focado inúmeras vezes o sintetizador, para não promover a discriminação instrumental).



"Como é que eu arranjo uma maneira de te fazer ver que te amo"? Caro F R David, acho que a encontraste, e que maneira!


Um bonito tributo de amor, que será sempre intemporal.


PS: Consta que F R David fez uma aposta com um amigo, antes do videoclip, sobre a quantidade de roupas de cores diferentes que conseguia usar, ao mesmo tempo.

Demis Roussos - Goodbye My Love Goodbye






Era imprescindível que começasse a minha contribuição neste blog, com esta magnífica criação, do não menos incrível cantor grego Demis Roussos.


Goodbye My Love Goodbye dá o mote a um videoclip sublime, a vários níveis. Falar sobre a riqueza estilística e artística desta criação, é quase um prazer. Digo quase, porque apesar da beleza inerente a este pedaço imprescindível de música popular mundial, ele apresenta algumas lacunas. Mas sobre isso falaremos mais tarde. Comecemos por apresentar algumas das suas características essenciais.


Primeiro que tudo, é de realçar a separação do tecido argumentativo do videoclip. Existem duas localidades abordadas, sendo uma um concerto do artista, e outra, completamente diferente, centrando-se numa estação de comboios. É esta segunda localização que alimenta a beleza e sensibilidade de todo o videoclip, levando-nos a viajar e a descobrir o estado psicológico do protagonista.


Refira-se que a técnica do Playback, era, nos saudosos anos 70, ainda uma ciência por descobrir. Só assim se justifica o esforço (de louvar) do artista em prolongar ao máximo as suas entoações artísticas, ao mesmo tempo que demonstra algum sofrimento com a situação criada.


Este sofrimento agudiza-se a partir de um movimento oscilante da sua mão direita, que raras vezes permanece calma e ou harmoniosa. A mão de Demis Roussos é a repercussão do seu sentir, que está turbulento e caótico. O artista é uma montanha russa de estímulos visuais, desde a sua mão incontrolavelmente bela, até a um peito saudavelmente robusto de pelos, passando por um olhar agonizante (parece distante mas não é, até porque a sua amada está prestes a partir [ou não?]).


De referir a qualidade inegável do realizador do videoclip. O seu esforço canaliza-se principalmente nas sucessivas tentativas de acompanhar o sofrimento do protagonista (leia-se, as suas mãos), ao mesmo tempo que procura enquadrar o peito robusto e musculado do mesmo, para assim realçar a beleza extasiante de um momento único na história musical popular mundial.


O videoclip é também, um manuscrito inegável da audácia dos envolvidos. Só assim se explica a total ausência de planificação do mesmo, na medida em que surgem vários pedestres (ditos figurantes) que não fazem a mínima noção que o estão a ser. Assim surgem indivíduos a andar de um lado para o outro, centralizados na sua própria vida, mas que não deixam de sentir curiosidade pela câmara que teimosamente os parece focar. Um pormenor magnífico, vanguardista. Mas não tanto como a heroicidade do protagonista.


O protagonista, num acumular de emoções e sensações despedaçantes, decide arriscar. É um aventureiro, o senhor Demis Roussos. Só assim se justifica estar a cantar tão apaixonadamente, e com tamanha demonstração de sensibilidade, no meio do carril dos comboios.


Uma última palavra para o fantástico penteado de Demis Roussos. Sobre isso não há muito mais a dizer. Muito bonito mesmo.



Meus amigos, falarei agora das lacunas, que comprometem o resultado final desta experiência única.


Ficamos sem saber quem é o amor de Demis Roussos. Ficamos sem conhecer a sua cara metade, a sua inspiração, a legitimidade que alimenta aquelas mãos oscilantes, dementes em movimento e em razão.


Quem é que faz sofrer tão desalmadamente este protagonista heróico? Já partiu no comboio? E há quanto tempo? E porque é que o protagonista a mandou embora? É ele que vai no comboio ou ela? A certa altura as dúvidas são demasiadamente frustrantes para nos deixar em paz, ou para nos permitir perceber completamente esta epopeia de Demis Roussos.


Se não fosse isto, seria uma viagem irrepreensível. Assim sendo, deixa-nos um pequeno sabor agridoce. O que não é impeditivo, no entanto, de guardamos eternamente no nosso coração esta criação artística notável.


O Início do "Imagem Sonora"

Antes de mais, gostaria de desejar uma boa estadia a todos os que nos decidam visitar. Este blog será sempre de todos e para todos, numa simbiose entre o que apresentamos e os comentários que poderão (ou não) ser partilhados.


A jornada que agora se inicia inscreve-se em premissas muito simples. Os três colaboradores assíduos deste espaço procurarão, de modo regular, apresentar "videoclips" , que pelas suas características visuais particulares, possam despertar um conjunto de análises incisivas e metafisicamente desenvolvidas.


Por outras palavras, não é qualquer videoclip que merecerá aqui aparecer. Terá que ser um "marcante", de inegável qualidade estética, coadjuvado por um impacto promovido na altura do seu lançamento.


Bem haja a todos. A viagem vai começar.


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